terça-feira, 2 de outubro de 2007

Roleta russa, desabafo e coisas afins

Há pouco mais de dez dias, passei por uma situação bastante constrangedora, naquele momento, me vi tomada por muitas sensações, todas ruins, diga-se de passagem, senti fúria, revolta e até insensatez, depois veio o choro, a sensação de invasão, abandono, injustiça, impunidade e insegurança. Prometi a mim mesma virar essa página, e, finalmente, o farei após a publicação deste texto.

O apresentador Luciano Huck fez publicar, ontem (1º de outubro), no jornal Folha de São Paulo, o seguinte desabafo:
Luciano Huck foi assassinado. Manchete do Jornal Nacional de ontem... E eu (Luciano), algumas páginas à frente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura. Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio. Por quê? Por causa de um relógio. Como brasileiro, tenho até pena dos dois pobres coitados montados naquela moto com um par de capacetes velhos e um 38 bem carregado. Provavelmente não tiveram infância e educação, muito menos oportunidades. O que não justifica ficar tentando matar as pessoas em plena luz do dia. O lugar deles é na cadeia. Agora, como cidadão paulistano, fico revoltado. Juro que pago todos os meus impostos, uma fortuna. E, como resultado, depois do cafezinho, em vez de balas de caramelo, quase recebo balas de chumbo na testa. Adoro São Paulo. É a minha cidade. Nasci aqui. As minhas raízes estão aqui. Mas a situação está ficando indefensável. Passei um dia na cidade e três assaltos passaram por mim. Meu irmão, uma funcionária e eu. Foi-se um relógio que acabara de ganhar da minha esposa em comemoração ao meu aniversário. Onde está a polícia? Onde está a "Elite da Tropa"? Quem sabe até a "Tropa de Elite"! Chamem o Comandante Nascimento! Está na hora de discutirmos segurança pública de verdade. Tenho certeza de que esse tipo de assalto ao transeunte, ao motorista, não leva mais do que 30 dias para ser extinto. Dois ladrões a bordo de uma moto, com uma coleção de relógios e pertences alheios na mochila e um par de armas de fogo não se teletransportam para o infinito. Passo o dia pensando em como deixar as pessoas mais felizes e como tentar fazer este país mais bacana. TV Diverte e a ONG que presido têm um trabalho sério e eficiente em sua missão. Meu prazer passa pelo bem-estar coletivo, não tenho dúvidas disso. Confesso que já andei de carro blindado, mas aboli. Por filosofia. Concluí que não era isso que queria para a minha cidade. Onde estão os projetos? Onde estão as políticas públicas de segurança? Onde está a polícia? Quem compra as centenas de relógios roubados? Onde vende? Não acredito que a polícia não saiba. Finge não saber. Alguém consegue explicar um assassino condenado que passa final de semana em casa!? Qual é a lógica disso? Hoje posso dizer que sou parte das estatísticas da violência em São Paulo. E, se você ainda não tem um assalto para chamar de seu, não se preocupe: a sua hora vai chegar. Desculpem o desabafo, mas, hoje amanheci um cidadão envergonhado de ser paulistano, um brasileiro humilhado por um calibre 38 e um homem que correu o risco de não ver os seus filhos crescerem por causa de um relógio.


Certamente, o caso não passará impune, como não passou despercebido. Bem diferente do meu, que tive meu LAR INVADIDO, minha PRIVACIDADE VIOLADA e, porque não dizer, minha FAMÍLIA PSICOLOGICAMENTE VIOLENTADA! Tenho a certeza de que nada irá mudar e porque? Porque ninguém se importa, as autoridades policiais sabem onde os bandidos atuam, quem são os receptadores, porém, tudo continua em seu status quo. Quero ressaltar que a perda material é mínima, frente o vendaval de sentimentos pelos quais eu, meus familiares e meus amigos passamos. Sentimo-nos chocados, humilhados, indignados, entristecidos, violados e, principalmente, INSEGUROS!
Questiono: QUEM É RESPONSÁVEL?
A 1ª resposta, que é sempre a mais simplista: as autoridades políticas, policiais e judiciárias. Entretanto, eu lembro uma coisa: a SOCIEDADE também tem sua fatia nesse “bolo”. Tudo parte dela, afinal, somos nós que (des)educamos as pessoas, que promovemos a (des)igualdade social e, principalmente, que entregamos o (des)governo a uns poucos! Não basta haver investimento em segurança pública, se a população não faz sua parte, denunciando, fiscalizando e cumprindo as leis. Só no Brasil tem esse negócio de que a lei X “pegou” e a lei Y não “pegou”. Lei não foi feita para “pegar”, mas para regular as relações sociais, serem respeitadas e cumpridas!
Muitos poderão usar um ditado popular para me contestar: “uma andorinha só não faz verão”. E eu rebato, se todos pensarem assim, nenhuma “andorinha” fará nada, do contrário, se todos começaram a se mexer, várias “andorinhas” farão um belo, ensolarado e seguro verão!
Eu não sei quanto a vocês, mas não quero viver com a sensação de que estou participando (involuntariamente) de um jogo de roleta russa. Eu estou tentando fazer o verão melhor, e vocês?

Um comentário:

Anônimo disse...

Outras casas foram invadidas, outras pessoas foram feitas refens da violência urbana e nada mudou...