quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Dançar de rosto colado


Dançar de rosto colado é coisa que os jovens de hoje não conhecem como preliminares de um ato de sedução. Nesses bailes de “antigamente”, os jovens rastreavam o salão em busca da uma garota ideal para iniciar um romance. Caso ela fosse localizada na mesa com os pais, nossas pernas tremiam. Um cuba talvez fosse o combustível para encorajar o ato de atravessar o salão e chegar na mesa com o convite formal: “Vamos dançar?” O “sim” dela poderia significar que também queria dançar, pois os olhos já tinham se cruzado num momento durante o baile. Mas, poderia ser um “sim” formal, de boa educação, para não fazer uma desfeita ao rapaz audacioso. Neste último caso, a regra aprendida de casa com a mãe casamenteira era de não dançar mais do que três “marcas”, para não significar outro interesse. No entanto, se pintasse um “clima”, as danças se prolongariam por todo o baile e, na hora exata, os rostos se colavam e a sedução começava com uma conversa de ouvido. O ato de seduzir se transformava em uma enciclopédia romântica que valia até mentiras ingênuas.


Corta para 2009... Não há mais rosto colado, não há mais bailes, os conjuntos melódicos são apenas boas lembranças e os clubes estão fechando seus salões que tinham a sua boate para os jovens. O beijo roubado, quando as luzes diminuíam de intensidade, era, talvez, o único da noite. Hoje, as garotas ficam apostando quem beija mais garotos numa noite e vulgarizou-se o ato sublime de um início de conquista. O baile funk, mais que uma reunião dos jovens de hoje, é um convescote de traficantes em busca de novos babacas para o início de uma vida de vícios. Vale o mesmo para uma festa rave e os incidentes estão aí na imprensa para que os colunistas não sejam tachados de caretas ou velhos recalcados. A sedução transformou-se em agressão sexual, para ambos os lados. Sem crack, sem pó, sem baseado, não há sequer uma aproximação de pessoas de sexo diferente. Rosto colado nem mesmo quando o DJ coloca uma música mais lenta para descansar os dedos. Não se dança mais, os pulos, requebros e gritos substituíram os passos cadenciados. O barulho do “bate-estaca” acabou com o diálogo. Sem diálogo não há romance. Fim de papo.

Está bem, somos velhos quando falamos de “rosto colado”. Mas ninguém pode roubar de nossa memória um tempo mágico onde o cavalheirismo de uma dança nos fazia flutuar por salões com pessoas especiais. E quem não dançou uma vez na vida de rosto colado não sabe o que perdeu.


Por Rogério Mendelski (jornalista e radialista gaúcho)

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