terça-feira, 6 de novembro de 2007

Cartas de Amor


Andei publicando textinhos que muito bem poderiam ser considerados 'cartas de amor', então lembrei de uma frase, parte de um maravilhoso poema, que diz: "todas as cartas de amor são ridículas". Será que são mesmo?

Antes de tudo, um pequeno prólogo:
Álvaro de Campos é um dos mais famosos heterônimos de Fernando Pessoa. Segundo a biografia que o próprio Pessoa criou, ele nasceu em Tavira, teve uma educação vulgar de Liceu e foi mandado a Escócia para estudar engenharia, primeiro mecânica e depois naval; em férias fez uma viagem ao Oriente e terminou seus dias na inatividade em Lisboa; enfim, era alguém sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo.
Como eu gosto bastante dos escritos de Pessoa, aí vai mais uma poesia digna de destaque.

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

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