Eu
prometi a mim mesma que não comentaria sobre a crônica publicada na
revista Playboy sobre os atrativos de Natal, que, de forma infeliz,
descreve a mulher natalense como uma completa e verdadeira vadia. Eu
acho que comentar é dar ibope a um lixo desses, mas não me
aguentei. Em homenagem ao ministro Joaquim Barbosa: eu até que gosto de
chafurdar na lama de vez em quando.
Há
uma gritante, injusta e errônea generalização a respeito de nós e
de nosso comportamento, isto não pode ficar assim. As pessoas já
têm uma imagem errada sobre as nordestinas e natalenses, imaginem
com um texto desses? O que ele pretende, além de denegrir a imagem
da natalense Brasil a fora? Promover o sexo turismo???
O
cara começa dizendo que o verão dura 12 meses – mentira, aqui
chove pelo menos 03 meses por ano – e que por isso os “shortinhos,
topzinhos e biquininhos são onipresentes”. Cara, eu sou natalense
e raramente uso shorts e quando os uso não são 'inhos' – prefiro
vestidos, só coloco top por baixo de camiseta usada para caminhar e
odeio biquininho. Vai ver não sou natalense, como declara minha
certidão de nascimento!
Calma,
é só o começo.
Ele
segue dizendo que “(quase) todo dia elas se refestelam na areia,
fritam sob o astro-rei”. Eu pergunto, quem são essas desocupadas
que vão à praia (quase) todo dia? Eu só consigo ir 2 ou 3 vezes
por ano e olhe lá, quando estou a fim de ficar vermelha e tenho nada
melhor para fazer, já que não sou fã de fritar no sol. Sou como a
maioria das natalenses que conheço: praia não é muito a minha
praia. Juro, estou começando a achar que meu registro é falso. Será
que fui adotada?
Ele
ousou dizer que as mulheres que vêm de fora incorporam o jeito de
ser das nativas. Gente... Quando eu li essa parte dei uma sonora
gargalhada! É sério isso? São elas que passam a se comportar como
nós ou é o inverso? Porque, a título de ilustração, até quando me lembro, o topless é
coisa de turista estrangeira e o fio dental só teve adesão de
algumas natalenses após o estouro do turismo, lá pelos anos 2000, quando as outras
vieram para cá encher as areias de nossas praias com seus bumbuns de fora. Até hoje não aderi ao
topless, nem ao fio dental. Eu acho, mas só acho que ele confundiu
turista e emigrante com nativa.
O
dito cujo segue afirmando “mulher aqui trata homem como produto em
liquidação. Ela se aproxima, olha a embalagem e, mesmo sem gostar
muito, diz a si mesma: “Vou levar. Vai que acaba…””. Numa
boa? O homem que se deixa tratar como produto de liquidação não
vale nada mesmo, é pior que canalha, se é que isso é possível. Do
mesmo jeito que não aceito ser tratada como um pedaço de carne,
também não vejo ninguém como artigo em prateleira. Mas essa sou
eu, vai ver sou muito chata, careta, vai ver sou de outro mundo.
Eu
queria ver o tipo de mulher que ele conheceu e que inspirou o
texto, juro! Que fique bem claro: ver, não conhecer. Eu sei que existe mulher para tudo e de todo jeito em
qualquer lugar do mundo, por que aqui seria tão diferente? Isto não
significa que todas (ou a maioria) sejam da forma que ele nos
descreve: depósitos de pecados, delicinhas, atiradas, que abordam
sem deixar espaço para mal-entendido, potrancas siliconadas,
acessíveis o bastante, de seios e bundinhas empinadas. Preciso mesmo
dizer 'ou seja, vadias'?
Sabem
o que eu acho sobre o autor e todos aqueles que falam e pensam do
mesmo jeito dele? São uns coitados! E quando eles levam fora ou chifre de
uma natalense? Eu acho é pouco. Ah,
já está bom, ele já levou 10 minutos de meu tempo – o
tempo que dispensei para escrever este texto.
O autor pode até ter
instigado um bando de marmanjos a vir aqui tirar a prova dos 9 (e
quebrar a cara bonito), mas o mais importante é que ele se queimou
total perante as natalenses, deixando-as indignadas, afinal, aqui há
muitas mulheres completamente diferentes da descrição feita por
ele. Vem cá, Márcio Nazianzeno, mostra a sua cara diante de uma
natalense de verdade.
Só
li a tal crônica porque várias amigas e conhecidas divulgaram. Ao
terminar de ler, e após controlar o riso das asneiras lá postas, eu
quase sofri uma crise existencial, só que não! Hahaha Não me
identifiquei em nada, comecei a duvidar do que
declaram meus documentos, comecei a achar que minhas memórias foram
alteradas, comecei a me questionar “será que sou mesmo natalense
ou sou um et?”. Mas enfim, esta é a primeira e última vez que me
manifesto sobre o assunto, é o meu direito de resposta. Não vou dar
mais ibope, sei que próxima semana o assunto será outro e logo esta
crônica infeliz cairá no ostracismo, como merece tudo aquilo que
não presta.
2 comentários:
Belíssima crônica, prima! Até achei que fosse minha!! rsrs É isso aí, mesmo, muito bem "dizido", com todas as respostas que nós, mulheres natalenses, potiguares, nordestinas, diríamos, ou diremos, caso nos confrontemos com algum asno que venha rinchar e dar coice em terras de Poti! Abraçosss
Obrigada, prima. Às vezes é preciso sair da zona do conforto e expor o que se pensa. Às vezes quem fala ou escreve o que não deve, escuta ou lê o que não quer.
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