Recebi a mensagem antes do Carnaval, mas como estava muito envolvida com os preparativos para o mesmo, acabei lendo somente agora. Merece ser passado adiante. Texto escrito por uma pessoa que conheci em 1º de janeiro de 2007, logo após a virada do ano. Alê, ainda tenho a foto!!!
Antes dos dias de entorpecimento, por Alexandre Gurgel Damasceno
Quando se pensa que o fim está próximo, seguindo fases bem definidas e já amplamente catalogadas pelas ciências ordinárias, as pessoas passam por um período de abertura emocional. Elas procuram se relacionar mais, se abrir mais, contemplar mais o universo alheio.
Não sou diferente. Como é de público conhecimento sou igualzinho a todos os outros. A média das médias sazonais excluindo-se do cálculo os pontos destoantes.
Acontece que antes do período carnavalesco me vejo na iminência do fim (não foi sempre assim). O pensamento recorrente é que será o último. Meus sintomas são claríssimos. Prolixidade se acentua, fico mais susceptíveis a cantadas, me apaixono várias vezes ao dia, acredito firmemente no sexo oposto, faço propostas estapafúrdias, entro em contato com parentes distantes, amigos distantes são localizados, choro, me emociono infantilmente, escrevo um pequeno testamento (não tem como ser grande), me arrependo das muitas coisas que não fiz, relembro o passado, cumpro minhas promessas, pago minhas dívidas, perco o sono na ânsia de aproveitar cada minuto, fico carente, dócil, procuro a paz com inimigos, procuro testamentar minha amizade àqueles que me são queridos, desejo conhecer todas aquelas coisas que me passaram intocadas, me permito uma profundidade que nunca tive, entrego paz em todas as esquinas, me impregno de solidariedade com os que ficam. Sem dúvida fico mais próximo das definições de amor, saudade, companheirismo, atenção, carinho, Deus, próximo, soledade.
Na quarta-feira, confiante naqueles que cairão na gandaia, não receio que haverão garrafas cheias, ruas limpas nos locais de concentração e agito, muitas lembranças de momentos hilários e marcantes. Haverá de ter surgido o amor e a amizade. Se produzirão fotos e serão compartilhadas. Os elos de relacionamento se expandirão. Confiante nos que ficam velando o sossego proporcionado pela migração temporária de milhares de pessoas, não receio que haverá desordem nos bairros sossegados e centros metropolitanos, livros esquecidos e de leituras inacabadas, filmes não assistidos, noites mal dormidas e tardes mal descansadas.
O importante queridos que são parte inseparável de minhas recordações e saudades é entendermos que "tudo agora mesmo pode estar por um segundo"(1) e que "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã"(2). Nos resta aproveitar este feriadão, nas bocas das garrafas, nos lábios do beijo, no balanço da rede ou no silêncio do amanhecer, e fazer o máximo daquilo que nós gostamos.
Nesta véspera de carnaval, nesta sexta que carregou minha torcida para ser maravilhosa, restou dentro deste último suspiro antes dos dias de completo entorpecimento este esforçado exercício literário. Quem sabe para atestarmos ou ri-lo na próxima semana. Para mim, tudo é festa, alegria, como fossem meus últimos minutos.
(1) Gilberto Gil, Tempo Rei
(2) Renato Russo, Pais e Filhos
Antes dos dias de entorpecimento, por Alexandre Gurgel Damasceno
Quando se pensa que o fim está próximo, seguindo fases bem definidas e já amplamente catalogadas pelas ciências ordinárias, as pessoas passam por um período de abertura emocional. Elas procuram se relacionar mais, se abrir mais, contemplar mais o universo alheio.
Não sou diferente. Como é de público conhecimento sou igualzinho a todos os outros. A média das médias sazonais excluindo-se do cálculo os pontos destoantes.
Acontece que antes do período carnavalesco me vejo na iminência do fim (não foi sempre assim). O pensamento recorrente é que será o último. Meus sintomas são claríssimos. Prolixidade se acentua, fico mais susceptíveis a cantadas, me apaixono várias vezes ao dia, acredito firmemente no sexo oposto, faço propostas estapafúrdias, entro em contato com parentes distantes, amigos distantes são localizados, choro, me emociono infantilmente, escrevo um pequeno testamento (não tem como ser grande), me arrependo das muitas coisas que não fiz, relembro o passado, cumpro minhas promessas, pago minhas dívidas, perco o sono na ânsia de aproveitar cada minuto, fico carente, dócil, procuro a paz com inimigos, procuro testamentar minha amizade àqueles que me são queridos, desejo conhecer todas aquelas coisas que me passaram intocadas, me permito uma profundidade que nunca tive, entrego paz em todas as esquinas, me impregno de solidariedade com os que ficam. Sem dúvida fico mais próximo das definições de amor, saudade, companheirismo, atenção, carinho, Deus, próximo, soledade.
Na quarta-feira, confiante naqueles que cairão na gandaia, não receio que haverão garrafas cheias, ruas limpas nos locais de concentração e agito, muitas lembranças de momentos hilários e marcantes. Haverá de ter surgido o amor e a amizade. Se produzirão fotos e serão compartilhadas. Os elos de relacionamento se expandirão. Confiante nos que ficam velando o sossego proporcionado pela migração temporária de milhares de pessoas, não receio que haverá desordem nos bairros sossegados e centros metropolitanos, livros esquecidos e de leituras inacabadas, filmes não assistidos, noites mal dormidas e tardes mal descansadas.
O importante queridos que são parte inseparável de minhas recordações e saudades é entendermos que "tudo agora mesmo pode estar por um segundo"(1) e que "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã"(2). Nos resta aproveitar este feriadão, nas bocas das garrafas, nos lábios do beijo, no balanço da rede ou no silêncio do amanhecer, e fazer o máximo daquilo que nós gostamos.
Nesta véspera de carnaval, nesta sexta que carregou minha torcida para ser maravilhosa, restou dentro deste último suspiro antes dos dias de completo entorpecimento este esforçado exercício literário. Quem sabe para atestarmos ou ri-lo na próxima semana. Para mim, tudo é festa, alegria, como fossem meus últimos minutos.
(1) Gilberto Gil, Tempo Rei
(2) Renato Russo, Pais e Filhos